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2004/06/05

Caixa hermeticamente fechada...

A gente tem uma dessas caixas do tempo... Eu e alguns amigos temos uma dessas caixas do tempo na qual se guarda algumas tralhas que são recortes da vida no presente. O engraçado é que eu lembro bem de todas as coisas que coloquei nela, mas não consigo precisar o dia certo que isso aconteceu. Só lembro que foi a primeira vez que a Lu levou o Negão pra enfrentar uma estrada e eu fui dirigindo... Lembro que na volta quase matei um cachorro. Lembro das pessoas e como éramos uma turma de verddade.

Se essa caixa estivesse aqui comigo, ela não seria uma verdadeira caixa do tempo. Eu a abriria toda hora para ver o que está acontecendo com o passado, com as coisas que a gente pensou e falou que faríamos... O que não nos tornaríamos e nas meninas que não deixaríamos de comer e nos caras que as meninas não deixariam de dar. E principalmente veria o que está acontecendo com a amizade que não deixaríamos morrer ou entrar em eterno coma.

Bizarro - Essa tal caixa vai ser aberta daqui uns dez anos, acho. Não tenho certeza porque parte da turma queria que ela fosse aberta na metade do prazo. Nem sei... O engraçado é que naquele dia que a gente fechou a caixa eu pensei: "quem estará vivo até lá, quem ainda saberei que existe até lá?" Eu tinha alguma certeza sobre isso, mas hoje nem sei mais. Fico pensando nessas caricaturas de adolescência tardia e não posso deixar de lembrar dos autores que tenho lido ultimamente. Eles todos são tomados por essa nostalgia prematura que dá uma certa moleza na evolução pessoal. Os odeio todos.

Eu já não sei mais se gosto de tudo isso... Não sei mais se gosto dessas promessas de amizade eterna e tudo que rola quando a gente está empolgado, junto com os caras e minas bebendo vinho. Eu na verdade me arrependo de uma certa inocência e ingenuidade que tive há tempos. Me envergonha de verdade. Parece que pouca coisa faz sentido, como nos livros que tenho lido. A única frase que ainda faz sentido, nesse momento, é uma interrogativa: "cê acredita nisso?" Não ouvi com meus próprios ouvidos a pessoa que originalmente disso isso.

Feliz vida nova - Quem disse isso exprimiu o que todos nós pensamos na virada do ano e que sempre tem que lidar com as promessas de novidades que são desejadas pelos outros. "Não vai mudar, caralho", pensamos. E não muda mesmo. Sempre estamos correndo por coisas que não alcançamos. Dos amigos, dos livros legais, dos CD legais, das garotas legais... E quem é legal? É por isso que "cê acredita nisso?" faz tanto sentido. Todos ficam desejando o melhor e tals e que tudo vai ser bom e tra-lá-lá-a-ô, mas é quase uma mentira.

A gente fica achando que as pessoas que não se empolgam com isso são as infelizes, mas acho que é bem ao contrário. Acho que essas pessoas que a gente diz que se enquadrou estão mais felizes porque sacaram que o legal mesmo é ser igual aos outros, jogar de acordo com as regras, com as etiquetas e outras coisas mais... É como um sistema de castas, mas a novidade é que nesse novo sistema você até consegue sair da sua. Cê sempre pode deixar de ser um favelado, um universitário para ser um cara legal que sabe o que pode fazer, onde pode fazer e o que dizer para ser um cara que evoluiu. Mas quando eu estou me conformando com essa idéia, vem uma voz alta pra caralho me dizer que o que importa é o grande "F"... De "foda-se!".

Post Script: Dois recortes, daquele tempo, da minha caixa do tempo pessoal:

O trinômio do sorvete (acredite: este texto é sobre a 25º Bienal)

Uma gosta de creme, outra de chocolate e eu gosto de morango; resultado sempre compramos sorvete napolitano. Somos três sabores diferentes procurando sua taça. Também temos gostos diferentes quando o assunto é arte.

A que gosta de chocolate prefere as obras bem coloridinhas, a que gosta de creme, bem essa gosta de tudo mesmo. Eu, que gosto de morango, prefiro as telas e fotografias de nudez, muita nudez. Nesse final de semana, fomos os três à 25º Bienal de São Paulo. Pena que não dá para escolher uma bienal como sorvete, em três sabores num pote.

Para que todos nós ficássemos satisfeitos na Bienal tivemos que pagar R$ 6 cada um. Além disso, andamos muito. Muito mesmo, cerca de cinco horas. Andamos tanto que a "chocolate" ficou com o pé sujo, pois a fofa foi para a exposição de sandálias. O "morango" está estirado num sofá e a "creme" tá com sono.

Em resumo, as melhores peças expostas na Bienal são de estrangeiros seguindo esta ordem: japoneses, italianos e depois americanos. Os brasileiros tentam, mas conseguem no máximo serem irreverentes. O melhor da nossa nação (na opinião leiga dos três -que afinal é o que importa) está no apêndice "Cidade Utópica" que tem uma piada politicamente incorreta sobre as torres gêmeas. Vá conferir e procure no piso térreo a bela morena que fisgou a atenção do morango.

Para encher lingüiça

Para desespero de alguns, e para o meu próprio, ultimamente eu só tenho feito textos sobre pequenas tragédias da minha vida privada. O que é uma pena. Quem lê esses textos deve mesmo imaginar que a minha vida não é lá muito criativa. Mas pensando bem, a quem eu quero enganar, ela não é nenhum pouco criativa mesmo.

Parafraseando aquele fulano, acho que Belchior, sou apenas um rapaz latino-americano (péssimo), estudante e com muitas contas para pagar (leia-se devedor de muitas dívidas). Não tenho muito tempo para inventar relações mirabolantes e confusas que tornam o cotidiano mais divertido e também mais problemático, diga-se de passagem. Prefiro, ou melhor, condiciono-me a manter uma rotina a mais pacata possível para evitar certas agruras, que por conceito são indesejáveis.

Minha rotina resume-se a ir para o trabalho, ir para a faculdade, confabular com amigos, ir para casa e dormir. Drogas? Há muito tempo nem sei o que é! Para ser exato, desde o aniversário de São Paulo, 25 de janeiro. Pelo menos o sexo anda mais ou menos em dia, mas ainda não rolou um menage a trois.

Livros tenho lido bastante, até. Acho que nunca fiquei tão pouco tempo sem ler nada. Só neste ano já li A Caverna, Evangelho Segundo Jesus Cristo, ambos de José Saramago, O Apanhador no Campo de Centeio, JD Salinger, Alta Fidelidade, Nick Hornby, e agora estou na metade do Ensaio Sobre a Cegueira, também do Saramago. O próximo que irei ler será Provos ou TAZ, da série Baderna da Editora Conrad. Ou quem sabe uma biografia de um artista plástico romeno, talvez ainda a integra do roteiro daquele filme, sabe? Aquele do menino surdo-mudo acorrentado numa árvore no alto de uma colina, só para reflexão.

Como diz um escritor famoso, aqui da rua, "há coisas que parecem não servir para nada, mas servem pelo menos para reflexão" -uma verdadeira pérola da filossofisma (só recorrendo ao neologismo para engolir isso). Esqueci de mencionar que tentei pela milésima vez ler Os Irmãos Karamazov de Dostoievski, ainda não foi desta vez, mas em breve conseguirei. Pelo menos a tempo de indicar para meus netos.

Entre um livro e outro, filmes no meio. Esses eu não tenho visto muitos, sabe. Desde o começo do ano acho que assisti umas três fitas. Vamos ver. O Senhor dos Anéis, duas vezes, mas vamos contar apenas uma vez, Dia de Treinamento e aquele documentário de quatro horas sobre violência doméstica do festival É Tudo Verdade. Preciso ir mais ao cinema.

Na verdade preciso mais um monte de coisa. Estudar mais, ler mais, ouvir mais músicas, ouvir mais as pessoas (interessantes), xingar menos, tolerar mais (nem tanto) e escrever mais rápido e melhor. São tantas coisas que às vezes tenho a certeza de que não haverá tempo para tudo. São dessas coisas idiotas que a gente vive pensando quando não tem o que fazer enquanto enche uma lingüiça. É por isso que eu odeio vir aqui para o sítio do meu tio.

Fala ai:



2004/06/02

Teaser

Tô meio cheio de tudo... Cheio do fracasso, mas convenções, da limitações, das impotências, dos sonhos que não se realizam, dos planos que não se concretizam...

Fala ai:



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