2005/03/03
O monstro encantado
A beleza de ser humano é rever, de uma semana pra outra, de um dia pro outro, suas últimas máximas-guias de vida. Num dia você acorda achando que seus pais não fazem mais do que a obrigação ao fazerem o possível e o impossível para que seus filhos se dêem bem (depois de assistir "Gues Who's Coming To Dinner") e no outro acha que não vai ter filhos.
Eu quero uma redenção para a minha última máxima-guia: "Você é o que ama, não quem ama", hoje. Achei que seria uma frase perfeita... Sendo uma pessoa tão difícil de ser compreendida, achei que isso bastaria. Nada é o bastante. E acreditar que há o bastante é tão infantil quanto acreditar em princípes encantados e romantismo...
Romantismo é algo que pode ser tão vil quanto a ditadura do "você tem que ser feliz; com um bom emprego, parceiro e filhos". Agir à margem disso é que não pode ser. Pra dizer te amo você tem que, além de gostar dos amigos dela ou dele, relevar falta de educação, tipo convidar alguém pra jantar e pedir antes dessa pessoa chegar..., acender velas (coisa que fazemos pra pessoas mortas), dar flores (que também fazemos pra pessoas mortas) e ajoelhar para dizer algo importante (coisa que também fazemos pra pessoas mortas lá pelo sétimo dia).
A gente, estou incluindo o universo feminino, prefere essas pequenas coisas repetidas nos filmes bufões e nas músicas do que a vida real... Se fosse um ser romântico, acreditaria que é ser romântico ficar do lado de uma pessoa quando ela acha que está perdendo os movimentos do lado esquerdo do corpo após... bater o braço na janela de um micro-ônibus... E ainda achar graça... E ainda prometer levá-la no hospital pra uma possível cirúrgia de transplante de braço.
Se fosse romântico, acharia romântico sair sempre atrasado de casa. Seria romântico sempre que a pessoa lesse pra mim o jornal porque eu não gosto e tenho "nojo" de pegar em jornal, assim como a Sandy deve se sentir (talvez fora por isso que ela, a Sandy, não passou no vestibular, falta de conhecimento geral por não ler jornal, aliás, por ter nojo de jornal...). Acharia até romântico uma pessoa dedicar uma música que toca no rádio e que diz: "Por ela eu dança até as músicas lá da Bahia".
Pensando bem, não dança as músicas lá da Bahia por ninguém. Mas é bom ilustrar as coisas impossíveis que faria por uma pessoa com um simplismo desses. Infelizmente, como disse, nada é o bastante. Nada é. E não será o bastante se conseguir colocar todos esses sentimentos num anel... Num par de joelhos ao chão ou numa fumaça de vela. Haverá outras coisas românticas que deixará de fazer.
E haverá outras coisas que fará, mas que ainda não se tornaram clássicas por meio do cinema, das músicas ou porque não é feita pela maioria das pessoas desde sempre. É, a vida é assim mesmo. Quanto mais a gente vive, mais percebe quão ingênuo se é. Pra mim uma cena romântica era encontrar alguém tatuada e viver o resto com inteligência. Só queria achar uma máxima-guia nova. Me sinto nu sem uma...
Fala ai:
A beleza de ser humano é rever, de uma semana pra outra, de um dia pro outro, suas últimas máximas-guias de vida. Num dia você acorda achando que seus pais não fazem mais do que a obrigação ao fazerem o possível e o impossível para que seus filhos se dêem bem (depois de assistir "Gues Who's Coming To Dinner") e no outro acha que não vai ter filhos.
Eu quero uma redenção para a minha última máxima-guia: "Você é o que ama, não quem ama", hoje. Achei que seria uma frase perfeita... Sendo uma pessoa tão difícil de ser compreendida, achei que isso bastaria. Nada é o bastante. E acreditar que há o bastante é tão infantil quanto acreditar em princípes encantados e romantismo...
Romantismo é algo que pode ser tão vil quanto a ditadura do "você tem que ser feliz; com um bom emprego, parceiro e filhos". Agir à margem disso é que não pode ser. Pra dizer te amo você tem que, além de gostar dos amigos dela ou dele, relevar falta de educação, tipo convidar alguém pra jantar e pedir antes dessa pessoa chegar..., acender velas (coisa que fazemos pra pessoas mortas), dar flores (que também fazemos pra pessoas mortas) e ajoelhar para dizer algo importante (coisa que também fazemos pra pessoas mortas lá pelo sétimo dia).
A gente, estou incluindo o universo feminino, prefere essas pequenas coisas repetidas nos filmes bufões e nas músicas do que a vida real... Se fosse um ser romântico, acreditaria que é ser romântico ficar do lado de uma pessoa quando ela acha que está perdendo os movimentos do lado esquerdo do corpo após... bater o braço na janela de um micro-ônibus... E ainda achar graça... E ainda prometer levá-la no hospital pra uma possível cirúrgia de transplante de braço.
Se fosse romântico, acharia romântico sair sempre atrasado de casa. Seria romântico sempre que a pessoa lesse pra mim o jornal porque eu não gosto e tenho "nojo" de pegar em jornal, assim como a Sandy deve se sentir (talvez fora por isso que ela, a Sandy, não passou no vestibular, falta de conhecimento geral por não ler jornal, aliás, por ter nojo de jornal...). Acharia até romântico uma pessoa dedicar uma música que toca no rádio e que diz: "Por ela eu dança até as músicas lá da Bahia".
Pensando bem, não dança as músicas lá da Bahia por ninguém. Mas é bom ilustrar as coisas impossíveis que faria por uma pessoa com um simplismo desses. Infelizmente, como disse, nada é o bastante. Nada é. E não será o bastante se conseguir colocar todos esses sentimentos num anel... Num par de joelhos ao chão ou numa fumaça de vela. Haverá outras coisas românticas que deixará de fazer.
E haverá outras coisas que fará, mas que ainda não se tornaram clássicas por meio do cinema, das músicas ou porque não é feita pela maioria das pessoas desde sempre. É, a vida é assim mesmo. Quanto mais a gente vive, mais percebe quão ingênuo se é. Pra mim uma cena romântica era encontrar alguém tatuada e viver o resto com inteligência. Só queria achar uma máxima-guia nova. Me sinto nu sem uma...